
A seleção sul-coreana de vôlei feminino conquistou uma vitória sobre o Japão no 150º clássico entre as duas nações, realizado um dia após o Dia da Libertação da Coreia. No entanto, a reação do público foi majoritariamente negativa, longe da celebração esperada.
Um triunfo em um cenário histórico
No dia 16 de agosto, no Ginásio de Jinju, a equipe comandada pelo técnico Fernando Morales venceu o Japão em uma batalha de cinco sets, com parciais de 25-18, 19-25, 20-25, 25-21 e 15-12. Esta foi uma vitória significativa, a primeira contra as rivais em mais de quatro anos, desde as Olimpíadas de Tóquio em 2020, quebrando uma sequência de quatro derrotas consecutivas. O triunfo ganhou um contorno ainda mais especial por ter ocorrido na cidade de Jinju, palco de uma grande vitória coreana sobre as forças japonesas durante as invasões do século XVI, e celebrado logo após o feriado nacional que marca o fim do domínio japonês.
O set decisivo e os erros de arbitragem
Apesar do contexto favorável, a vitória foi ofuscada por uma série de decisões controversas da arbitragem, especialmente no quinto e decisivo set, levantando acusações de favorecimento à equipe da casa. A sequência de erros minou a credibilidade da partida.
A polêmica começou com o placar em 4 a 1 para o Japão. A arbitragem marcou uma invasão por cima da rede da levantadora japonesa, mas a jogada claramente deveria ter sido uma infração da jogadora coreana, que tocou na bola ainda no espaço aéreo da quadra adversária. Logo depois, com o placar em 5 a 2, foi marcado um toque na rede do Japão, embora a rede não tenha se movido visivelmente. Esses erros permitiram que a Coreia se recuperasse no placar.
O momento mais crítico ocorreu quando o jogo estava empatado em 10 a 10. Um ataque da coreana Kang So-hwi foi claramente para fora, mas o juiz de linha marcou ponto para a Coreia. O árbitro principal, então, corrigiu a decisão para um toque no bloqueio, dando a liderança de 11 a 10 para as anfitriãs. As jogadoras japonesas protestaram intensamente, mas, como o torneio não contava com sistema de vídeo-desafio, a marcação foi mantida. Na sequência imediata, um saque de Kim Da-in que saiu da quadra foi validado como ponto para a Coreia. Com o momento a seu favor, a equipe da casa fechou o set em 15 a 12.
Repercussão negativa e indignação geral
Após a partida, as redes sociais e fóruns online foram inundados por críticas de torcedores coreanos. Comentários como “De que adianta vencer assim?”, “Isso é uma vergonha”, “O pior jogo da história do vôlei” e “O árbitro dominou a partida, que vexame” se espalharam rapidamente.
A indignação também foi enorme no Japão. Um vídeo editado com os erros de arbitragem da partida, publicado por um internauta japonês no YouTube, ultrapassou 500 mil visualizações em apenas um dia, com quase dois mil comentários criticando a parcialidade dos juízes. A polêmica cresceu a ponto de a transmissão oficial da partida evitar exibir os replays de diversas jogadas controversas, supostamente pela clareza dos erros.
A resposta da Associação Coreana de Voleibol
Mesmo com a controvérsia ganhando força, a postura da Associação Coreana de Voleibol (KVA) foi vista como complacente. Em entrevista por telefone à emissora KBS, um alto funcionário da KVA tentou dar um significado positivo à vitória: “Nossa seleção feminina vinha de uma longa sequência de derrotas em competições importantes. Esperamos que esta vitória no 150º jogo contra o Japão, mesmo sendo um amistoso, sirva como um ponto de virada para que as jogadoras ganhem mais confiança”.
O dirigente também lamentou que a atuação das atletas estivesse sendo ofuscada pela polêmica. “Nossas jogadoras estão em um processo de renovação e crescimento. É uma pena para elas vencerem depois de tanto tempo e ouvirem que só conseguiram por causa da arbitragem”, afirmou.
Sobre as decisões dos juízes, ele evitou aprofundar, mas admitiu: “Com a torcida local presente, acho que houve uma tendência a favorecer um pouco. No entanto, a associação não exerceu qualquer tipo de pressão sobre a arbitragem. São todos profissionais e tiveram suas próprias interpretações. Esperamos que isso sirva de aprendizado para eles”.
Uma vitória que pode custar caro
Para uma seleção que vive uma fase de declínio acentuado desde a aposentadoria da lendária Kim Yeon-koung, a vitória contra o Japão foi o único resultado positivo no torneio, que terminou com um saldo de uma vitória e quatro derrotas. Críticos apontam que, em vez de gerar a “confiança” citada pela KVA, um triunfo como este pode, na verdade, criar um sentimento de “incapacidade” nas atletas, reforçando a ideia de que, no momento, elas não conseguem vencer uma rival como o Japão – mesmo que seja a sua equipe “B” – sem uma ajuda externa.